Cândido Pinto de Melo, estudante de engenharia pela Universidade Federal de Pernambuco, estava no auge dos seus 20 anos quando iniciou-se o período ditatorial no Brasil. Como um ativista assíduo e defensor das liberdades coletivas e individuais, lutou bravamente contra esse sistema, tornando-se presidente da União de Estudantes de Pernambuco (UEP), que atuava ilegalmente na época. Em vista disso, no dia 28 de abril de 1969, aos 21 anos, enquanto percorria as imediações da Ponte da Torre, foi intimidado por 3 homens encapuzados a entrar em um carro. Ao reagir à coerção, foi surpreendido por 2 tiros, um no rosto e outro na coluna, que o deixaram paraplégico.
A partir desse atentado, a vida de Cândido foi virada de cabeça para baixo. O andar apressado do jovem foi substituído pelo ranger das cadeiras de rodas e diversas idas ao hospital. No entanto, o instinto reacionário e justiceiro de Cândido continuou aceso como nunca, e o engenheiro continuou atuando ativamente dentro do movimento estudantil contra o autoritarismo. Participava da organização de assembleias e promovia reuniões com estudantes e membros da sociedade a fim de fortalecer as manifestações contra a repressão do governo.
Sua nova condição, de um corpo agora marcado pelos danos irreversíveis de uma ditadura militar, atiçou a ascensão de novas paixões além do ativismo político: a Engenharia Biomédica. Enquanto estava internado após o atentado, os médicos contam que Cândido até mesmo tentou produzir uma “armadura” para lhe ajudar a andar, e precisou provar matematicamente aos seus cuidadores como isso era possível. Assim, decidiu seguir essa especialidade e foi bastante renomado na área, chegando a trabalhar no Hospital das Clínicas de São Paulo e a fundar a Associação de Bioengenharia Brasileira.
Depois de uma vida marcada pelo trânsito entre salas de reuniões, assembleias e hospitais, Cândido morreu precocemente aos 55 anos, em 2002. Seu legado, por outro lado, continua presente na atuação do movimento estudantil, do movimento pelos direitos de pessoas com deficiência, na luta contra a ditadura, e no papel do engenheiro biomédico como transformador de sua realidade.
Atualmente, o Diretório Acadêmico de Engenharia Biomédica da UFPE e União de Estudantes de Pernambuco levam o nome de Cândido Pinto de Melo, assim como a Ponte da Torre- cenário palco do acontecimento que mudou sua vida.
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